Titulo: Wonderful World Cap. 1

1- País das Maravilhas

‘Meu corpo tá pesado. A cada passo que eu dou tenho que arrastar o meu pé. Meus ombros estão caídos, estão doloridos de mais para se manterem retos. Estou me arrastando numa floresta. Está escuro e frio. De repente eu piso em falso e caio num buraco. Enquanto caio olho para o céu que está acima de mim. As arvores tampam maior parte dele, mas eu consigo ver uma única estrela brilhando. Senti-me aliviada pelo fato de estar caindo e não ter que sentir dor. Mas quando cheguei ao meu destino em vez de sentir o chão frio e duro, encontrei braços firmes a me abraçar. Virei para ver seu rosto, mas ele estava embaçado. Só ouvi uma frase.

-Você voltara para o País das Maravilhas?’

- Senhorita Miracle!

-Sim!

-Já que você estava prestando tanta atenção na aula porque não responde minha pergunta?

-Poderia repetir, por favor?

-Qual a capital da Alemanha?

-Mas não estamos estudando Rússia?

-Você conhece bem as regras, os alunos tem que saber não só a matéria que esta estudando como tem que saber a que vai estudar.

-Sim senhora, minhas desculpas.

Sentei e enquanto ela falava peguei uma foto da minha mãe. O meu nome é Lilian Miracle, eu nasci no Japão, mas estou estudando na Inglaterra. Meu pai era japonês e minha mãe era inglesa, faz nove anos quem a minha mãe está desaparecida e meu pai está doente desde então. Tenho uma irmã mais velha que se chama Roseli, ela tem 22 anos e tem cabelos loiros ondulados e grandes. Tenho também uma irmã menor chamada Analice e ela é igual a minha irmã mais velha só que em miniatura. Nós três carregamos a linhagem sanguínea pura e a prova disso é que os nossos olhos são azuis cristalinos. Mas eu não sou considerada uma pura apesar de ter os olhos azuis, pois meu cabelo é preto igual ao do meu pai. Todos desprezam a mim e ao meu pai por “mancharem” a linhagem perfeita, minha irmã mais velha nunca ligou para nos dois e a minha irmã mais nova também está seguindo esse caminho. Pela lógica eu sou a ultima filha dessa família, mas minha irmã obrigou o meu pai a adotar Analice já que ela se parecia muito com a minha mãe. Eu tenho 14 anos e Analice tem nove, já existiram muitos boatos sobre Analice ser realmente filha dos Miracle já que a linhagem dela é perfeita. Todos tem medo de mim por eu ter cabelos negros, estudo nessa escola porque minha irmã disse que eu já dava vergonha demais à família pelo meu sangue impuro e que eu não podia ser ignorante também. Enquanto olhava para a foto da minha mãe percebi uma lagrima caindo e tratei de limpar rapidamente. Ouvi o sinal do fim da aula bater e arrumei as minhas coisas. Enquanto eu passava pelo corredor ouvia ao meu redor múrmuros e “urgh” de nojos. Caminhei com o rosto em pé e inexpressivo como sempre fiz, eu nunca sorri. Enquanto caminhava vi um pequeno fio esticado na altura da minha canela, suspirei e continuei andando, depois de um tempo tropecei no fio e cai no chão. Meus livros se espalharam pelo chão e logo em seguida ouvi risadas atrás de mim. Levantei e bati na saia que era até os joelhos, limpei a minha blusa branca de manga comprida e comecei a pegar os meus livros. Eu já tinha pego três dos quatros livros quando uma mão o pegou primeiro.

-Pronto você esta bem? Não se machucou?

Olhei para a garota com um sorriso estampado no rosto ela era mediana, da minha altura, a cor do cabelo dela era chocolate e ele era ondulado até o busto, que por acaso achei grande demais. Seus olhos eram verdes claros com três riscos de verde escuro meio musgo.

- Senhorita Clement não é?

-Ora como você sabe?

-O padrão de cores dos seus olhos.

-Nossa o mundo hoje em dia vem realmente julgando as pessoas pelo padrão de cores não é? Bem agora é a minha vez, se não me engano você é a jovem Miracle não? A irmã do meio.

Isso era obvio, ela queria um troféu? Os Miracle eram uma das cinco famílias mais conhecidas da Europa. Mas o ultimo fato que ela falou me incomodou um pouco, parecia que ela tinha duvida quanto a isso.

-Sim, meu nome é Lilian Miracle prazer em conhecê-la Srta. Clement.

-Não precisa me chamar de senhorita, o prazer é todo meu Lilian. Meu nome é Karen.

-Sim Srta. Karen.

Ela suspirou e olhou para mim novamente.

-Poxa os boatos são mesmo verdadeiros.

Senti meu músculo enrijecer.

-Seu cabelo é longo até a bunda, totalmente liso e de um preto impecável.

De certa forma fiquei meio decepcionada, mas ao mesmo tempo aliviada.

-Estou aqui para me inscrever nessa escola, mas não conheço ninguém aqui. Você poderia me fazer companhia? Depois podemos conversar melhor.

-Se quiser uma companhia eu serei Srta. Karen.

Ao ouvi a voz senti um arrepio subindo por todo o corpo. Olhei por trás de Karen e vi Roseli parada com Analice ao seu lado. Karen se virou e sorriu.

-Não é necessário, tenho sorte que a Lily é da minha idade. Enquanto andamos podemos conversar e nos tornarmos amigas.

Mas o que?! Ela certamente não sabe nada sobre mim a não ser sobre o meu cabelo. Não pude deixar de mostrar surpresa e Roseli não pode deixar de mostrar um pouco de irritação.

-Fico grata pela sua generosidade Srta. Karen, mas eu preciso estudar.

-Mesmo? Poxa queria muito que fosse a minha casa hoje.

Ela chegou mais perto de mim e me deu um abraço, logo veio os sons de incredibilidade. Assim que Karen se afastou de mim, minha irmã veio e me puxou com força pelo pulso. Com um braço sendo puxado outro abarrotado de livros não pude evitar e acabei perdendo o equilíbrio levando não só a mim, mas como também a minha irmã. Ela num ato de pura fúria se afastou de mim e me bateu no rosto, fiquei de cabeça baixa esperando a bochecha dolorida parar de latejar.

-Sua bastarda! Como se atreve? Quer sujar mais um puro?

Levantei-me com cuidado e sem a preocupação de limpar as roupas de antes. Roseli se levantou disposta a me humilhar mais ainda e quando ela se preparava para dar outro sermão físico uma mão segurou a dela impedindo que isso acontecesse. Olhei para a pessoa atrás dela e vi um príncipe. Bem literalmente. Ele era alto, tinha cabelos cor de mel, sua pele era bege clara, tinha ombros um pouco largos e as feições de seu rosto eram perfeitas. Chegando ao rosto percebi a cor de seus olhos e tratei de me curvar.

-Jo-Jovem Clement. É um prazer conhece-lo, sou-

-Lilian Miracle certo? O prazer é todo meu Srta, meu nome é Andrew.

Senti meu rosto queimar, em seguida ele saiu de trás de Roseli e beijou a minha mão.

-N-Não pode Jovem Andrew, sou impura e o Jovem não pode-

-Impura? Mas as cores de seus olhos dizem outra coisa.

-Ela não é igual a nós, ela não é igual à mamãe.

Olhei para Analice com uma expressão um pouco carregada de tristeza, vi Andrew olhar para ela.

-Você não deveria falar assim com a sua irmã mais velha, Karen nunca faria isso comigo mesmo se a cor dos nossos olhos fossem diferentes e se não fossemos irmãos de sangue não é?

Olhei para Karen e ela sorria docemente.

-Claro, pois ele é meu querido irmão e, mesmo que eu não saiba, ele está sempre cuidado de mim direta ou indiretamente.

Olhei esperançosa para Analice, mas sua expressão não mudara.

-Lilian não é digna de ser dessa família, ela envergonha o nome Miracle. Nossa mãe foi tola em se casar com aquele homem imundo, o que era de esperar de uma louca que vive fantasiando coisas. Lilian só está aqui porque eu deixei. Ela depende de mim.

Fechei minha mão em punho, levantei a cabeça que estava abaixada e todos me observavam com cuidado. Olhei para Roseli com toda a determinação e coragem que pude reunir.

-Não fale dela assim, minha mãe não era louca ou tola! A verdade é que você morre de medo de mim. Sou tão filha dela quanto você, a cor do meu cabelo não muda isso e você sabe que se eu for tão capaz quanto você para cuidar da família Miracle eu posso tomar o seu lugar. Você tem 22 anos e não se casou! Quem é incompetente aqui?

Cheguei mais perto dela e olhei fundo nos seus olhos.

-Que comece a caçada, não serei mais seu brinquedinho. Se prepare.

Sai andando para o portão, mas antes de ir embora virei e disse.

-Meu nome é Lilian Miracle, filha de Kuro Miracle e de Alice Miracle. Podem falar o que quiserem de mim, mas eu irei provar que ele realmente existe, esperem e irão ver. Mostrarei a vocês o País das Maravilhas!

Sai sem olhar pra trás, não ia deixar que falassem assim da minha mãe, mostrarei que ele é verdadeiro, com certeza!